por Milton Mateus, em 2023-10-10

Quinze de Abril…

Quinze de Abril…

 

Ruas isoladas, todo mundo em casa como se a rua dissesse que não os queria mais ver, nuvens negras cobriam o céu que, outrora era lindo e enchia os olhos dos habitantes daquela mesma cidade. A última vez em que essa cidade sorriu, foi há quinze anos. Eram choros atrás de choros nos cantos das casas, mães desesperadas, psicólogos cheios, falta de psiquiatras e escolas vazias. Paredes e ruas manchadas de sangue humano, mas a polícia nunca encontrava corpos ou uma unha sequer da vítima que pertencia o sangue. Quase já não se viamcrianças e nem adolescentes nas ruas, somente adultos, mas estes também contavam-se nos dedos de uma só mão. A polícia procurava por algo ou alguém, não se sabia ao certo quem ou o quê, não haviam pistas de nada, ele, ela ou essa coisa, não deixava rastos ou pistas. Má investigação? Coisa de outro mundo? Por que apenas adolescentes da faixa dos quatorze à dezasseis anos desapareciam? Um ritual de feitiçaria? Tráficos de órgãos? Bem, a polícia não fazia ideia do que se passava na cidade

 

Dia quinze do mês de abril e do ano de dois mil e quinze, marcava o calendário. A polícia local recebera uma ligação de Tânia, a irmã mais velha do mais recente adolescente desaparecido, alegando que tivesse uma pista que fosse desvendar o caso, bem, mais do que uma simples pista, uma morada. A polícia averiguou a pista com cautela e parecia que sim, eles estivessem mesmo perto de desvendar o caso. Sem tempo a perder (até porque já nem o tinham mesmo) foi dada uma ordem à quase todos os agentes que circulavam pelas ruas, para que abandonassem os seus postos e fossem até a casa 442k na rua Rosa Lueji. Carros e todos os tipos de equipamentos foram disponibilizados para esta missão. Os primeiros policiais a chegarem no local, fizeram questão de isolar a casa, rua e aguardaram pela chegada dos demais. Era uma casa grande, velha e podre, parecia abandonada, o quintal era uma verdadeira mata e o capim chegava até na cintura dos agentes da polícia, tudo fora do lugar, moscas de um lado e larvas do outro. Tinha uma árvore velha no centro do quintal com os dizeres “obrigado por teres renegado a tua vida, seja bem-vindo. Só com isso, alguns agentes ficaram com medo ao verem tudo a partir de fora do quintal, mas ainda assim, a polícia arrombou a porta do quintal da frente e entraram caminhando em passos de camaleão, até que… “stop”, fez Dube DC “líder do batalhão” e mandou parar o batalhão. Ele ouviualguma coisa vindo de dentro da casa, pareciam crianças e adolescentes chorando, mas muito baixo.Dube perguntou se mais alguém conseguia ouviraquilo, mas todos em coro afirmaram “negativo, senhor”. Bem, talvez eu esteja a ouvir coisas, pensou ele já avançando para a porta principal da casa. Todos em prontidão ao lado da porta, Dube contou até três e arrombaram a porta. MERDA! Essa foi a palavra que fez o gosto ao paladar de todo mundo, Dube e os seus agentes foram gentilmente recebidos por um forte e nauseabundo odor que saiu do interior da casa. Eles mal conseguiam respirar,era difícil de inalar o ar, o interior da casa era muitoescuro, parecia que ali era noite e lá fora dia. Paredes manchadas de sangue, órgãos espalhados pelo chão, algumas cabeças de adolescentes,ossos, pedacinhos de pénis, pele humana, dedosetc. Simplesmente era o inferno aí dentro. Cheirava a cemitério com todos os caixões abertos e trazia recordações traumatizantes a todo mundo, era como se todos sentissem na pele que tivessem sidodecapitados, era uma sensação horrível. Havia uma Guilhotina improvisada no final do corredor, meu deus, quem é o psicopata que vive fazendo isso? Era a pergunta que pairava no ar. A polícia revirou a casa inteira, mas não havia uma pista sequer da pessoa macabra que fazia isso. Dube não parava de ouvir vozes de adolescentes que suplicavam para serem salvos, mas não havia ninguém aí para salvar, somente o cheiro do vinho amargo da morte. Frustrado e esgotado depois de ver todo aquelecenário horrível, Dube bateu em uma parede e de repente ela começou a mover-se, todos entraram em pânico, mas logo viram que se tratava de uma passagem secreta. Armados até aos dentes, eles entraram pela porta secreta que os conduziu até a um laboratório. Era um laboratório horrível e improvisado, tinha uma poça de sangue no chão, o cheiro de lá era pesado, parecia que cheirava a arrependimento e culpa. No canto direito ao fundo,havia uma cápsula gigante e dentro dela tinha umcorpo humano, parecia carne humana sendo conservada dentro de uma cápsula gigante. Tinha uma espécie de cama no canto esquerdo do laboratório, Dube se aproximou um pouco para ver melhor e ter a certeza, sim, era uma cama e parecia ter uma mulher sentada na cama virada de costas pra ele. Todos se assustaram por saber que tem uma pessoa viva nessa casa. Dube chamou por essa pessoa e ela virou lentamente até ficar frente a frente com Dube, todos apontaram a arma para essa pessoa e ficaram prontos para o que der e vier.

 

– Finalmente vocês chegaram.Disse a mulher misteriosa passando a mão no cabelo.

– Quem é você e o que fazes aqui? – Perguntou Dube com a arma apontada para ela.

– Sou eu quem faz as perguntas aqui. Eu sou aCátia, a dona desta casa, eu vivo aqui.

Conta outra, o que é isso na sua mão?

– Bem, é um detonador, queres ouvir uma historinha? Sim? – Ela se ajeita. – Então cá vai… Há quinze anos, eu e o meu filho, Júnior, saíamos de um restaurante, era o décimo quinto aniversário dele e eu tinha bebido muito. Nós cantávamos e nos divertíamos dentro do carro a caminho de casa. Eu sabia que a trajetória seria longa e eu não podia adormecer ao volante, mas depois de muitas loucuras no carro, Júnior acabou dormindo. Eu juro que tentei me manter acordada ao volante, mas não consegui, eu acabei dormindo e o nosso carro bateu em um camião. Depois disso, lembro de ter acordado no hospital, os médicos disseram que eu fiquei em coma durante três meses e que meu filho havia morrido no acidente. Eu chorei durante noites sem fim, não comia direito, vivia na angústia, culpa e arrependimento. Tive depressão e várias vezes tentei me suicidar. Todas as noites eu ouvia a voz dele chamando por mim, mas eu não o via. Dia após dia, o sofrimento não terminava, eu frequentei o psicólogo, psiquiatra e tomei de tudo, mas nada resultava, eu queria o meu filho de VOLTA! Certa noite, uma voz disse que traria o meu filho de volta se eu fizesse o que ela queria. Eu rapidamente disseque sim, então durante quinze anos, eu fazia o que essa voz mandava, eu procurava adolescentes parecidos com o meu filho e retirava deles as partes que mais se pareciam com as do meu filho. Olhos, orelhas, nariz, boca, membros, tronco, pénis etc.Sempre que eu achasse alguma parte de um adolescente que condizia com a do meu filho, eu arrancava dele e juntava com as outras partes para puder costurar o meu novo Júnior. Eu fazia questão de fazer com que todos os meninos tivessem uma morte especial e diferente. Uns eu esfaqueei, outros degolei, uns desmembrei, outros asfixiei e os seus restos eu deixava por toda a casa, como puderam notar. E como eu os atraía até mim? Bem, isso eu não vou dizer, ficarão na curiosidade. As manchas de sangue nas ruas foram deixadas por mim, eu precisava chamar a vossa atenção, era divertido.Depois de um tempo, eu me toquei que era impossível ter o meu filho de volta, então, eu simplesmente comecei a matar por diversão mesmo, é tão bom ouvir alguém suplicar pela sua vida inútil, é tão bom puder fazer sexo com adolescentes e depois matá-los. E ah, depois de um tempo, eu experimentei carne humana e aí não parei mais, byebye super mercado

 

Chega! A senhora está presa! – Gritou Dube.

Espera, como vocês me acharam? Ah, foi aquela mensagem do último adolescente que sequestrei, não? Acho que ele se chamava Júnior também.

– Parece que a senhora cometeu um erro.

– Não, não foi um erro, foi propositado para que vocês chegassem até mim.

– O quê?

Eu estou cansada e preciso morrer, mas para finalizar a minha missão cá na terra, eu preciso de um banho de sangue, e sim, o meu sangue também está incluído…

 

Dito isso, Cátia largou o detonador e choveramrajadas de balas por cima dela no mesmo instante, mas isso de nada adiantou, era tarde demais. Acasa, juntamente com todo o quarteirão, foram pelos ares. Todos ali presentes ficaram carbonizados, o local ficou totalmente irreconhecível e apenas o cheiro doce da morte, permaneceu…

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