por Obama, em 2023-10-10

Educação

 EDUCAÇÃO

Género: Terror

Autor: Obama

Foi necessário estar morto para que a minha realidade tivesse esperança de viver um sonho. Um sonho movido à certeza, um sonho onde não sabemos quem vamos enfrentar, mas sabemos que temos de enfrenta-lo para continuar a sonhar, um sonho onde a celeuma entre o ouvir e ver não venha obstar a transformação do ser, um sonho que me faça não acreditar no silêncio do universo, mas que me faça ouvir o barulho dos mortos no batucar do vento nas árvores do meu cemitério, um sonho onde o medo não seja minha fortaleza nem a bravura na ignorância a minha arma. Os meus mortos falam, falam a linguagem dos vivos. Os meus mortos cantam, cantam na certeza de serem ouvidos. Os meus mortos dançam, dançam no escurecer dos corpos que deveriam ser luz, os meus mortos vivem, vivem nos vivos que vivem mortos. Os meus mortos clamam, pois as ilhas que criamos são os nossos traumas. Os meus mortos sonham, sonham em ser menos. Menos sonhador, menos preso da liberdade, menos corpo e mais alma, menos campa e mais portas, os meus mortos choram, choram a educação faminta que os seus filhos têm, os meus mortos são vivos enquanto mortos, pois nada morre sem viver.

O frio é congelante, mas a nudez do meu coração não me impediu de odiar, pois quando alguém morre cheio de ódio em meio a injustiça, nasce uma maldição, eu conheço todos os teus pesadelos, conheço o barrulho dos gatos chorando o choro da cova, nas noites em que a ansiedade vem á tona, os medos sobrevoam a escuridão que a luz de vela não cobre, estou espiralado em teus lençóis, a nova escravidão esta contida em tua almofada, olhe para ela, olhe para onde poisas a tua cabeça, olhe para onde esta aprisionado os teus sonhos, para onde as criaturas misteriosas se encontram, para onde as criaturas misteriosas têm retirado os cérebros dos teus governantes, porque agora vocês estarão condenados a uma governação sem cérebro. Olhe para a tua cama, esta é a noite de mostrar quem realmente nunca tentaste ser, vamos nos enganar mais uma vez, olhe para o teu quarto e não vê nada, grita o mais forte que poderes com um tom de voz horripilante, morda-se e deixe que o teu sangue faça pacto com a madrugada, faça pacto com a servidão, vamos nos enganar mais uma vez, finja que o frio não te tem visitado com a solidão, finja que o espelho contido em tua casa não tem mostrado o rosto da fome embriagada com a fragância da corrupção, como é bom saber que vocês também sabem fingir assim como finge os dias que são noites e finge que amanhece, lamento em vos dizer mas a partir de hoje vocês só terão noites e que algumas vezes fingirão ser dias com clareza, cometeram o erro de servir-me uma educação envenenada pelo sistema. Gatos pretos nunca envelhecem, porque eles são os dias e a noites infinitas, mas agora feche a porta e as janelas do teu quarto, se poder feche também os teus olhos e em tua imaginação, bem no fundo do teu amago, ouça, ouça os passos suaves e pesados da quimera que nos foi tatuada, ouça, ouça o chorar dos teus pais diante da tua cova cavada, ouça, ouça o discurso dos teus governantes que são os teus coveiros e a educação a nossa primeira cova, ouça, ouça a voz da depressão que nos conforta, ouça, ouça o arrepiar dos pelos num corpo putrificado, ouça, ouça apenas a certeza de não saberes se amanhã vais acordar com os olhos abertos, saiba que – A cada dia vivendo tu morres.

Malueca meu bairro, pobreza meu berço, Malungo meu nome, sei o quanto vocês choraram a minha morte, o quanto sentiram a dor dos meus familiares, sei o quanto Malueca sofre com as chuvas, e as buscas distanciadas de água para beber, mais somos nós que agora com as pontes caídas usamos as águas da chuva para matar a sede, as chuvas que abalam Malueca são os meus sonhos destruídos, chorando por uma chance de poder falar que o sofrimento não termina com a morte, mesmo morto sofro pelo pacto feito pelos governantes, em troca de poderes, eles deixaram-se retirar os seus cérebros e estão fazendo com cada um que embriaga-se com o veneno da educação. Somos obrigados a nos proteger debaixo das sombras dos capins.

Existem cadáveres invés de ser viventes sentadas nos bancos de cada escola, os nossos medos pouco falam, a educação se tornou uma loucura perfeita para os governantes, pois ela fala e ninguém ouve e os que ouvem nada entendem, porque a loucura só é entendida pelos verdadeiros artistas. Não tente fugir, estamos presos neles, eles sempre irão nos achar. Olhe para dentro de si, e diga oque você acha do mundo? Pois o mundo é a composição de cada um de nós, mas o nós tornou-se singular na busca da sobrevivência do espirito. Preciso que me confirmem se estou mesmo morto, ou vivendo uma imaginação, porque sei que aquilo que o nosso corpo sente não se compara com a força da imaginação.

Lembro-me de poucas coisas, apenas que era um sábado, dia 10, estava em meu quarto, quando de repente ouvi passos percorrendo a minha casa, nada me tinha assutado ainda, porque todos me conheciam, senti os passos bem mais perto da minha janela, e comecei a imaginar coisas, quando num piscar de olhos a porta foi arrombada e os meus amigos entraram em minha casa, sim os meus amigos, arrombaram a minha porta, a minha angustia naquele momento tinha desaparecido. Mas o medo é um caminho sem fim, quando amarram-me numa das cadeiras que havia em meus quarto, comecei a temer pela minha vida, fui espancado durante 20 minutos, colocaram os meus dedos em água quente, em seguida obrigaram-me a beber toda água misturada com o sangue que vertia dos meus olhos, perfurados com o cano de uma das armas que eles carregavam, estava muito frio neste dia, eu não entendia o porque daquilo estar acontecer comigo, então em meio aos prantos tive o folego de perguntar, esforçando angustiantemente a minha voz que saia de forma amarga e os lábios chocavam-se e colavam pela força da queimadura que fez feridas:

- Porque estão a fazer isso comigo? – Não me lembro de vos ter feito nada de ruim?

- Observe a luz que carregas em teus olhos, mesmo perfurados, eles ainda brilham. – Esta noite a escuridão é vitoriosa e a educação fará efeito.

Começava a sentir o queimar dos órgãos dentro de mim, e ouvia aquele sussurro sorridente nos meus ouvidos, o cheiro do meu fígado a ser queimado, a pressa de aceitar a morte era minha melhor solução, os gatos chorando na minha porta era como o tapar dos ouvidos de outras pessoas, ninguém ouviu nada, ninguém viu nada, tiraram – me as roupas, mas como elas estavam coladas nos ferimentos, tira-la produz uma dor atroz, mas a dor já não doía como dói a certeza de ser morto por quem você chamou de amigo, a cada rasgar de roupa saia consigo a minha pele e como se não basta-se, deram-me um banho de sal, e as minha pernas pararam de se movimentar, eu estava com os olhos abertos mas não conseguia ver, mas sentia a pele se dilacerando e o sangue cobrindo o meu corpo, havia um suor tão frio formando poças de sangue, minha garganta estava seca, meu suor frio escorria pelo meu rosto irreconhecível, tiraram-me o cabelo com laminas de gilete, passavam por cima das feridas que a minha cabeça tinha, as laminas encravavam em mim e colava pedaços de carne nelas, os meus cabelos misturavam-se com a hemorragia que saia da minha cabeça, meu peito foi marcado com ferro de engomar com um símbolo de livro aberto, estava sendo feito assim o cumprimento do pacto entre os governantes e a pobreza vestida combinando com a corrupção, o amanhecer vestido de madrugada, o educar vestido de desenvolvimento, Utopia vestida de lei, mendacidade vestida de verdade absoluta. Sentia o meu coração batendo e levantado a carne viva que ainda restava em meu corpo, tentava respirar com tudo que ainda restava em mim. O fenómeno da verdadeira educação parte de dentro para fora e eles queriam destruir tudo que eu tinha por dentro, queimaram a minha língua, mas não as palavras proferidas por mim, bateram em meu corpo mas não nos livros lidos, não acreditem no que eles falam tentem experimentar a verdade.

O conhecimento é extremamente perigoso e eu vivi uma vida perigosamente feliz. Precisei morrer para saber que os nossos governantes trocaram seus cérebros para poder governar por mais tempo, o pacto foi feito.

Após a tanto sofrimento finalmente ouvi o barulho da paz, o barulho de um tiro, a bala estava em meu cérebro e já não ouvia o meu coração batendo, mas ainda temos mais 5 minutos para ler. Malueca ficou presa ao envenenamento da Educação.

 

 

 

 

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