por Muzeri kizenza, em 2023-10-13
ONDA DA MANHÃ
E ele despertou desse sonho quando bateram na porta.
Eram 2:23 segundo o relógio branco na parede. Levantou resmungando, não era a primeira vez naquela semana a ser incomodado por alguém pedindo algum tipo de ajuda.
— É mais quem a essa hora?
Quando abriu a porta, viu um homem de pé, alto, negro, vestido com um terno verde, sem camisa, o terno era de um tom mais escuro. Tinha pulseiras e um colar de ouro.
— Soube que você é o pescador mais experiente por aqui. Me leve até ali — Disse apontando para o mar — e eu te pago quanto você quiser.
O pescador olhava para ele sem entender nada.
— Não. Passar bem.
Respondeu o pescador, já fechando a porta. O homem abriu uma das sacolas e jogou para o pescador. A sacola estava cheia de dinheiro. Notas de cinco mil kwanzas. O pescador ficou admirado mexendo na sacola.
— Espere um pouco.
Fechou a porta. Foi até a mulher que estava na sala preocupada.
— O que foi?
— Olha isso!
— De onde saiu esse dinheiro?
— Tem um cliente lá fora, ele quer que eu lhe transporte para o outro lado.
— A essa hora?
— Eu sei, mas não seria a primeira vez.
— Sim, mas nas outras eram mercadorias de conhecidos teus. Esse homem, sabes quem é?
— Mas ele tá disposto a pagar tudo isso! Olha só!
A mulher ficou pensativa. Começou a tirar o dinheiro da sacola. O homem começou a bater na porta e a gritar pelo pescador. O pescador foi até ele.
— Se não é suficiente não faz mal, ainda tenho mais aqui.
Pegou uma mochila que estava nas costas, dessas grandes e jogou no chão, estava cheia de ouro, jóias e mais dinheiro. O pescador levou até a mulher, que quando viu aquilo disse pra o marido:
— Ainda estás aqui a fazer o quê?
— Mas não estavas com desconfiança? Agora eu que tô preocupado.
— Vê, com esse dinheiro não precisarias se matar de trabalhar toda hora. Podemos ter uma outra casa, melhor que essa, e uma vida melhor.
— Mas essa casa não é boa?
— É, claro que é, mas podia ser melhor. Escuta, podemos nunca ter essa oportunidade nunca mais. Vai, leva esse homem até onde ele quer e daí voltas.
Ela falou de um jeito tão meigo que ele aceitou levar o homem. Porém, o Pescador se surpreendeu com o brilho e encanto nos olhos da mulher ao ver todo aquele ouro. Ele nunca a tinha visto daquela maneira. Foi chamar seu ajudante, preparou o barco e partiram.
O mar estava tranquilo. O céu com estrelas e uma lua cheia. Entre os três, um grande silêncio. O ajudante ainda estava meio sonolento, já o pescador queria evitar qualquer tipo de conversa, quanto menos soubesse, melhor.
— Curve aqui! — O homem gritou.
— Quer ir para o Mussulo? — Perguntou Pescador.
— Não. Faça isso por favor!
— Eu conheço essa águas, nessa direção não vamos a lado nenhum — Disse o pescador.
O homem insistiu, então o pescador fez a curva e o barco girou fazendo uma cicatrizes bonita na água. Quebrando o silêncio o homem perguntou:
— Pescador, você sabia que Kiandas dançam?
— Kiandas não dançam! — Disse o ajudante — Elas não têm pernas.
— Elas dançam sim, se você tocar a música certa elas dançam, além do mais, a Kiandas têm sim pernas, na sua maioria. Na verdade, Aia, uma Kianda com o encanto da sabedoria é quem espalhou por aí a ideia de que Kiandas têm uma cauda de peixe, para assim elas poderem andar entre o homens sem serem notadas. Alguém próximo a ti pode ser uma Kianda — Disse o homem sorrindo — Elas amam ouro — Disse olhando dessa vez para o pescador que se sentindo incomodado virou para o lado.
— Para onde pretende chegar? — Perguntou o pescador já aborrecido.
— Já estamos quase.
O ajudante quis fazer mais perguntas, mas o pescador fez um sinal para que ele ficasse quieto. O homem percebendo disse:
— Vocês sabiam que o nome de todas Kiandas de o nome começa por A?
— Tipo a Ariel?!
— Isso, tipo Ariel — Respondeu o homem.
Pausou por alguns segundos e continuou:
— Então, há muitos anos atrás, os colonos chegaram nessas terras e iniciaram o seu massacre pelos reinos. Então, um dos reis, colocou o seu jovem príncipe em um barco junto com servos e os mandou partir, para quem sua linhagem continuasse. Porém, houve uma tempestade e o barco naufragou. O príncipe acabou se afogando, mas não morreu. Uma Kianda chamada Ashteia o salvou. Levou até uma ilha, bem próxima daqui. Inclusive essa ilha tem o nome desse príncipe.
— Ilha do Mussulo? — Perguntou o ajudante.
O homem apenas riu e continuou.
— Então, Ashteia curou com seu encanto, o alimentou e cuidou dele por 3 dias. Bem, pareceram três dias para ele, mas afinal haviam passado anos. No fim do terceiro dia, ela disse que precisava partir para o mar, mas que não conseguia. Ela havia se apaixonado pelo jovem príncipe e ele também havia se apaixonado por ela. Só que...
De repente o homem parou de falar. Olhou a sua volta e disse:
— Para! para! É aqui!
— Mas não há nada aqui! — Respondeu o pescador — Estamos no meio do mar.
O homem parecendo nem ter escutado levantou, estendeu a mão ao ajudante e depois para o pescador.
— Obrigado. Aos dois.
Após agradecer se jogou na água. O pescador e o ajudante olharam um para o outro sem saber o que fazer. O ajudante olhando com atenção percebeu que o homem estava se afogando.
— Mestre, esse gajo vai morrer! — Gritou o ajudante.
— Eu já estava a desconfiar que esse não batia bem — disse o Pescador.
O pescador se jogou na água, mas ao entrar parecia que havia atravessado um portal para outro domínio. Conseguia respirar normalmente debaixo da água, o lugar estava tão claro quanto o dia, mas ao olhar para cima, dava pra notar a escuridão da madrugada no céu. Viu o homem desmaiado e continuava descendo mais ainda. E então, do fundo do mar, surgiu uma jovem mulher, negra, o cabelo era longo e branco, muito bonito. Os olhos eram azuis, em um tom suave. O pescador ficou assustado e maravilhado ao mesmo tempo. Essa mulher abraçou o homem, e cantou no ouvido dele. O homem lentamente abriu os olhos e quando a viu disse sorrindo:
— Ashteia! Que bom te encontrar!
Ela sorriu de volta e o beijou. Em seguida, ela olhou para o pescador e nadou até ele, que ficou paralisado de medo.
— Não tenhas medo — Disse ela.
A mulher começou a cantar, e o homem começou a sentir o corpo pesado, como se por dentro cada parte tivesse se transformado em grãos de areia. Ainda assim, ele permaneceu acordado e admirado olhando para ela. A mulher ergueu as mãos, e tocou na face do pescador, e ele pouco a pouco adormeceu.
E ele despertou desse sonho quando bateram na porta.
Eram 2:23 segundo o relógio branco na parede. Levantou resmungando, mas percebeu que estava todo molhado, e o lugar onde deitou também. A mulher perguntava o que havia acontecido. O pescador ficou parado por uns instantes tentando entender o que estava acontecendo. As batidas na porta iam ficando intensas. O pescador então foi abrir a porta.
— É mais quem a essa hora?
Quando abriu, estava um homem em pé, alto, negro, vestido com um terno verde, com um tom mais escuro. Tinha pulseiras e um colar de ouro.
— Soube que você é o pescador mais experiente por aqui. Me leve até ali — Disse apontando para o mar — e eu te pago o quanto você quiser.
O pescador olhava para ele sem entender nada.