por Maurício Baptista Major, em 2021-09-19

O Natal dos Warrens

O Natal dos Warrens


 Em um mundo e tempo bem diferente do nosso, havia uma planta ao pé de um rio, vivia desconfortável. A uma distância encontrava-se uma floresta com árvores enormes. Insatisfeita, triste, murmurava a planta perguntando-se: Porque tenho que viver proximo ao rio, é tão húmido? - Olhando para a floresta a plan...

- Vovô a planta tem olhos? Que planta é essa? - interrompendo seu avô, perguntou Plácido, um menino moreno de cabelo crespo, o menor dos seus três netos.

- Senhor sabichão, isso é apenas uma estória. Só te preocupou agora por que planta olhou? A planta já falou, nem disseste nada... Seu sabichão! - Falou Amada, na intenção de irritar o seu irmãozinho e na sala todos colocaram-se a rir. 

 Por ser véspera festiva, os Warrens estavam reunidos, coisa que não acontecia a meia década. Londres nevava bastante nesta época, mas a estrutura da mansão dos Warrens fazia parecer um castelo de pedras enormes como uma fortaleza. Todos sentiam uma leve paz, a presença de vovô James Warren trazia essa sensação. Com tanta sabedoria jorrando de suas atitudes e palavras, parecia a personificação do Pai dos espíritos. Sim, trazia a sensação que tinha a resposta para todas as perguntas que se pode imaginar.

- Continua com a estória Vovô. - Disse Leno, ansioso e nostálgico, pelos tempos idos. A declaração dele pareceu mais estranha que a pergunta do pequeno Plácido, porque já não era uma criança. Seus pais olharam para ele com uma cara de sorriso engolido (espero que entendas o que é isso).  

 Leno veio de França com sua noiva francesa Agnes. Sabendo que seu Avô voltaria de suas grandes expedições de mundos e tempos diferentes do nosso,  não poderia perder esse natal com a familia. Todos reuniram-se em Londres. Lá onde os pais de Leno, Amada e Plácido decidiram viver depois de casados. 

 Então o vovô James decidiu continuar. - Olhando a floresta ainda murmurava a pequena planta: Aquelas árvores parecem ser felizes, não têm que ouvir o barulho da água do rio correndo. Porque tem que ser eu? Estou cansada dessa vida. - Vovô falava com um semblante abatido, assombrado com lembranças de suas viagens no espaço-tempo, suspirando fundo continuou. - O rio amava tanto a planta, triste com as palavras dela disse. - Querida planta, o melhor lugar para ti é aqui bem ao meu lado. Poderás crescer um dia e ser mais robusta que aquelas árvores que tanto cobiças.  Mas a planta não deu ouvidos.   

- Certo dia passou bem perto deles um vento muito forte...

- O vento também fala? - Perguntou Plácido ao seu avô, mais uma vez quebrando o silêncio. 

 Dessa vez foi a mãe de Plácido uma mulher negra de Luanda muito linda apesar de sua idade, que sussurrando disse. - Silêncio!

- Deixa o menino em paz, Njinga! - Num tom brando, James Warren repreendeu sua nora,  puxando ao colo o seu neto continuou. - Meu querido neto, crês que o vento fala? - Plácido respondeu que sim, ao menear a cabeça. 

 Olhando nos olhos de seu neto, James disse: Se você crê, então o vento fala, tudo é possível para aquele que crê.

-Vovô, falando assim para essa cabeça oca ninguém conseguirá convencer o contrário. – Disse Amada, adolescente que herdou a cor e beleza da mãe, com a mesma intenção de inrritar seu irmão cassule.

- O vento fala sim, és tu a cabeça oca, que não acredita no vovó. - Retrucou Plácido na tentativa de defender-se e tudo que fez foi conquistar mais uma rajada de gargalhadas de todos presentes na sala. 

 ... Era tão forte o vento que arrancava tudo o que encontrava em frente. - Continuo James Warren, ignorando as gargalhadas. Num tom profundo falava com gestos como um Carama-erudito. 

 A inocente planta ficou encantada com o vento forte. Então disse. - Olá vento leva-me contigo! 

 O rio na tentativa de não perder a sua amada implorou. - Querida não vá! Te amo tanto, não me deixe! 

 A planta respondeu. - Lamento rio, com o vento vou poder voar e serei melhor que aquelas arvores, felizes. - O vento abraçou a planta e saíram voando. 

 Para ela era o dia mais feliz. – James olhou para sua neta, que tinha os olhos cheios de lágrimas e disse. – Mas para o rio era o dia que perdeu sua amada! E voaram bem alto. - Dessa vez James olhou em direção ao seu pequeno neto que estava com um semblante entusiasmado em seu colo, lembrou-se da sua pergunta de que se o vento falaria, com um sorriso continuo narrando. - E disse o vento. - Planta foi bom ficar contigo mas temos que nos separar aqui. 

 A planta aterrorizada gritou. - Não faças isso comigo! Se eu cair a esta distancia eu morro!  

- A única forma de ficarmos juntos é te tornares igual a mim. - Falou o vento num tom bastante sereno e continuou. – Não estas pronta pra isso, não estás pronta para ter a minha natureza, eu lamento. - E a largou. Caiu bem perto das árvores que tanto cobiçava. A queda a deixou toda partida em pedaços e quase morta.

A planta olhou para as árvores e disse gemendo. - Olá eu sempre desejei viver aqui convosco. - Respondeu uma das árvores que ali ficava. - Estás maluca? - E continuo. - Nós acompanhávamos a distância e sempre morremos de inveja de ti. Víamos o rio a dar-te tanto carinho, as cantadas que ele fazia com o som das águas correntes. Aqui as nossas raízes são tão frágeis, por isso é que o vento está sempre a nos arrancar e acabámos por morrer secas e com sede. Mas você lá, terias um futuro totalmente diferente que pena que vamos ter que ver-te a morrer a aqui.                                                                          por:   M.B Major
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