por Adrícia Divalda Gonçalves Neto, em 2023-10-07
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Dhoxe colhia frutos junto de seu irmão cassula, Buvris, uma criança doce que apesar de já ter atingido uma idade mais avançada, ainda não havia pronunciado a primeira palavra.
Era um dia belo, o céu assumia uma mistura de cores, dentre elas o rosa e o laranja. Mais ao longe, os pais de Dhoxe observavam suas crianças e pensavam no quão afortunados eram por ter dois filhos tão bondosos. A vida deles era humilde, mas não havia do que reclamar. Vastas plantações cercavam seu bairro e um leito de água verde corria próximo ao local em que viviam. Em outras palavras, a natureza dava tudo o que era necessário para a vida, e para eles aquilo sempre foi mais do que o suficiente.
Poluição era uma palavra desconhecida. A morte chegava apenas para os anciões que gozaram dos prazeres da vida por longas e longas décadas, e eles aceitavam de braços abertos quando chegava o momento.
A violência nunca fora praticada. Crimes como homicídio ou roubo, eram ideias incompreensíveis. Naquele pequeno pedaço de paraíso havia apenas paz e tranquilidade.
Então, numa fatídica manhã, Dhoxe havia enchido o cesto de frutas, uma mais saborosa que a outra, e agora retornava para casa. Segurava o cesto numa das mãos e na outra tinha a pequena mão de seu irmão, a qual apertava carinhosamente. E num anseio de apreciar o céu sobre suas cabeças, ergueu seu olhar e admirou aquela bela paisagem mais uma vez. Foi então que viu algo fora do comum pela primeira vez. Começou com um pontinho preto surgindo ao longe, mas logo em seguida surgiram outros.
Pouco tempo depois todo o pessoal do bairro se amontoava na rua central e olhava curiosamente para os pontos pretos que cada vez mais se tornavam maiores.
“O que será isso?” “Nunca vi nada do tipo” “Chamem o patriarca” – Diziam.
Quando aqueles estranhos objectos, que a princípio não passavam de pequenos pontos, se aproximaram ainda mais, foi possível vê-los com tamanha clareza. Eram casas gigantes de metal que flutuavam sem emitir nenhum som. Nas extremidades dessas casas de metal haviam longos canos polidos que apontavam em direcção ao bairro.
– Mamã, olha! eles são muito bonitos! – Uma criança disse.
Quando as casas de metal, haviam vinte ao todo. Ao alcançarem o pessoal do bairro, uma sirene pode ser ouvida e da maior delas o que parecia ser uma porta de metal se abriu.
A essa altura, o patriarca do bairro, a coisa mais próxima que eles tinham de um líder apareceu, surgindo em meio a multidão que respeitosamente abria caminho.
Devido a sua idade avançada, sua mobilidade não era muito ágil e caminhava a passos lentos. Seu nome era Kutan.
– Bem aventurados somos. – Disse Kutan para todo pessoal. – Fomos agraciados com uma visita dos céus. Juntai-vos irmãos e irmãs, filhos e filhas, e veremos o que nossos visitantes tem a dizer.
No momento seguinte, da porta de metal que se abriu, uma criatura saltou, caindo entre os habitantes do bairro com as pernas dobradas, mas ficando em pé logo em seguida.
A criatura era diferente de tudo o que eles já haviam visto. Tinha mãos e pés, assim como eles, mas era mais alta, seus braços e pernas eram mais longos e aparentavam ser mais fortes. Seu corpo parecia feito de metal maleável e em suas mãos havia uma coisa estranha, com um cano polido na ponta.
Quando a criatura ficou em pé, olhou para todos a sua volta. Era impossível dizer no que ela estava a pensar, pois um capacete bem trabalhado cobria sua cabeça e consequentemente seu rosto. Em seguida levou uma das mãos sobre um dos lados do capacete e começou a falar num idioma incompreensível.
– Olá, grande ser de metal. – Disse o patriarca, se aproximando a passos lentos da criatura. – Meu nome é Kutan e eu sou o representante desse bairro. Que nosso primeiro contacto seja pacífico e que esse dia entre para a história de nosso planeta.
A criatura não respondeu e então ergueu o instrumento estranho em suas mãos em direcção a Kutan.
– O que é isso? Um presente? – Kutan perguntou confuso e quando ergueu as mãos para receber, seja lá o que aquilo fosse, o inesperado aconteceu.
Da ponta lustrosa do cano na extremidade do instrumento, uma luz vermelha brilhou de uma única vez. Tudo foi tão rápido que foi impossível de entender a princípio.
No instante seguinte o corpo do patriarca caiu no chão. Sua cabeça havia desaparecido e seu elixir da vida esguichava pelo pescoço, manchando o chão a sua volta.
Ninguém gritou, ninguém fugiu, ninguém entendeu aquilo. Foi o primeiro homicídio que presenciaram em toda história daquele bairro. Não fosse o que aconteceu em seguida, talvez todos tivessem sido executados sem sequer perceber o que estava acontecendo.
Num gesto rápido a criatura de metal elevou novamente a mão até um dos lados do capacete e disse mais algumas palavras incompreensíveis. E no instante seguinte vinte sirenes soaram e dezenas de criaturas de metal começaram a saltar das casas de metal flutuantes. Tão logo seus corpos atingiam o chão, os instrumentos em suas mãos brilhavam e outros habitantes do bairro caiam sem vida.
Então alguém gritou. No segundo seguinte todos gritavam e corriam de um lado pro outro, caindo e morrendo com buracos no corpo ou sem os membros. Os instrumentos de metal que as criaturas carregavam faziam aquilo.
Dhoxe ainda segurava a mão de seu pequeno irmão enquanto corria desesperadamente para encontrar seus pais, até observa-los ao longe.
– Dhoxe! – Gritou seu pai que em seguida correu em sua direcção. Sua mãe vinha logo atrás aos tropeços.
– Papá! – Dhoxe gritou de volta.
O caos acontecia a sua volta, membros arrancados, rostos antes conhecidos, agora caídos e sem vida. Criaturas de metal corriam e matavam impiedosamente.
Quando Dhoxe estava quase alcançando seus pais uma gigantesca bola de fogo desceu dos céus e os engoliu numa grande explosão. Dhoxe e seu irmão foram arremessados pelo impacto. A bola de fogo havia vindo do cano na extremidade de uma das casas de metal flutuante.
Dhoxe levantou tonto pelo impacto da explosão, e olhou para onde antes estavam seus pais, apenas para ver que restava agora só uma grande cratera vazia no lugar.
– NÃO... NÃO! – Gritou.
Como se sua dor não fosse suficiente, ao olhar para o lado percebeu que seu irmão não segurava mais sua mão. Olhou em volta, mas tudo que viu foi destruição e morte.
Dhoxe sentiu algo a doer dentro dele. Não era uma dor física, como sentira certa vez quando caiu de uma árvore. Era uma dor que doía mais que todas as dores. Era medo, angústia e tristeza, sentimentos nunca antes sentidos por ele, mas que agora afloravam em seu peito.
Enquanto tentava entender o que estava a sentir, Dhoxe sentiu um forte impacto contra seu rosto, tão poderoso que o arremessou novamente ao chão. Ele havia sido golpeado por uma pesada luva de metal.
Quando seus olhos puderam ver novamente, percebeu que uma das criaturas de metal estava diante dele, encarando-o. Não era possível ver seu rosto de início, pois seu capacete bem esculpido o cobria em seu todo. A criatura então, levou a mão até a parte de trás do capacete e pareceu apertar algo. No momento seguinte o capacete se abriu, revelando um rosto macio e de pele clara. O formato do rosto era diferente do povo de Dhoxe, mas algumas coisas eram iguais, como a boca e os olhos.
A criatura não era de metal, apenas se escondia atrás de uma armadura.
Dhoxe tentou falar, mas sua boca havia sido gravemente ferida com o impacto do soco, então apenas observou catatônico enquanto aqueles olhos vazios o encaravam com uma expressão que Dhoxe não conseguia compreender.
Como que se deliciando com o sofrimento alheio, aquele ser estranho deixou seu rosto bem próximo do rosto de Dhoxe, olhou bem no fundo dos olhos dele e disse em seu idioma incompreensível:
– Escute bem, antes de morrer seu extraterrestre ignorante e retardado, nós somos humanos, viemos do planeta terra e vamos conquistar todo o universo, a começar por esse planeta miserável.
Dhoxe não conseguia entender as palavras que ouvia, mas bastou olhar profundamente nos olhos daquele ser, para que visse o verdadeiro mal pela primeira e última vez.
Zay One
Quero o segundo capítulo!!!😭😭😭 exijo!!!
Zay One
Onde é que o Buvris está?😞
Emanuel Ngunga
Ancioso pela continuação do enredo. Parabéns