por Isvania Morázia Marques, em 2021-06-23

Kuduro

Kuduro é o maior símbolo de representativida angolana 


By Isvania Morázia Marques


A génese e evolução do estílo musical mais popular na República de Angola, o Kuduro, é actualmente equiparada ao historial do género musical tradicional angolano, o Semba, que serviu de ferramenta importante durante o tempo da Luta pela Libertação Nacional contra o jugo colonial português.


Hoje, o Kuduro, sendo um estílo musical criado nas zonas suburbanas de Luanda, é a mais eficaz ferramenta na luta contra a exclusão social, pobreza, deliquência e outros males que enfermam as camadas populacionais mais desfavorecidas.


O Kuduro é um género musical e de dança originário dos “musseques” de Luanda, Angola, caracterizado pela mistura de elementos musicais electrónicos, que se podem confundir com o House Africano, tendo letras músicais humoradas e bastante expressivas e com conteúdo “vulgar”, acompanhadas com danças peculiares que demonstram quase uma mistura de “breaks”, “funk”, Kwaito, Sungura e Rap. É de salientar que ao decorrer dos tempos, o Kuduro tem evoluido, havendo grandes diferenciações nas suas formas de dançar e cantar.


O referido estílo, que surgiu nos finais dos anos 80, por duas figuras tidas como pioneiras (Tony Amado e Sebém), tem a designação (Kuduro) originária ao movimento característico dos dançarinos, que pareciam ter a “bunda dura”.


A representação da realidade angolana

Enquanto, pelas composições, instrumentais, danças e vídeos clipes, os outros estílos musicais tendem a apresentar uma Angola “colorida” vivida apenas por uma camada minoritária e favorecida da população, o Kuduro representa a mais vívida realidade do povo angolano.

As suas letras descrevem o que se vive nos bairros de Luanda e do país em geral, e os seus vídeos clipes demonstram a realidade do povo desde a falta de asfalto ao excessivo número musseques e becos existentes num país considerado entre os mais ricos de África e do mundo, pelos seus recursos naturais.

Apesar de ser duramente criticado, o estílo musical Kuduro não é apenas a ferramenta de luta dos desfavorecidos (mostrando a evolução dos musseques e a real expressão daquilo que o povo passa), é também a preferida em grandes “badaladas” ou festas nos guetos e nas cidades de Angola. Pois, quando uma voz do guetto canta Kuduro, os pés das cidades e centralidades se movem de acordo ao rítmo do som.

Lembrando que tal como o Kuduro, o Semba também foi margilaizado durante a luta de Libertação Colonial, mas os seus criadores continuaram e hoje é um estilo aplaudido por todos. Tal como o Kuduro um dia será.

Em termos culturais, a internacionalização daquilo que é a República de Angola, passa pela peculiaridade do Kuduro, que não só cativa corações nos países de língua oficial portuguesa, como também em vários outros.

Deveras, chegou-se em uma altura que não é arriscado assumir que actualmente, não existe um estilo nacional de maior representatividade angolana que o Kuduro.

As duras críticas pelo conteúdo vulgar das letras, vídeos clipes nos bairros e danças, caem por terra por ser a realidade representada nos grandes holofostes do país. Afinal, é assim que vive a maioria dos angolanos, entre táxis, casebres de chapas, comboios, prisões, criminalidade, fogareiros, lixo, águas estagnadas, miséria, lamentos e etc.

Com o Kuduro, Tony Amado e Sebém desafiaram a exclusão social. A Fofandó enfrentou o machismo (mesmo sem saber que o estava a enfrentar). A sua coragem abriu caminho para muitas mulheres e particularmente aquela que hoje é a maior representante feminina deste estílo musical à nível mundial, a cantora Noite e Dia, e que por mais de uma década de carreira, tem enfrentado todos os tipos de preconceitos que um estilo tão único como o Kuduro encara. É o Kuduro que transformou Os Lambas em um grupo musical de referência e tirou os seus integrantes da vida da deliquência, tal como foram os casos de Bruno M, Puto Lilas, Puto Prata e outros.

É esta suposta “vulgaridade” de estílo musical que a vasta maioria angolana legitimamente usa como arma contra a criminalidade, a pobreza, a má-governação, e, sobretudo como um verdadeiro bálsamo para esquecer, cantando e dançando “para não chorar” das “malambas” da vida.

O Kuduro é um património nacional que merece o nosso respeito e uma maior valorização, principalmente por parte de quem é de direito, porque realmente se queremos conhecer, entender e resolver os problemas da vasta maioria angolana, precisamos ouvir o que têm a dizer. E qual melhor forma de ouvir que a música?
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