por Marlene João, em 2024-06-14
A dor do parto
A dor do parto
Eu confesso que estava apaixonada. Naquele maldito ano, eu me apaixonei.
Não sei como eu me atrevi a abrir o meu coração partido ao novo amor. Não sei até hoje, de onde surgiu a força para juntar os pedaços fragmentado do que me restava.
O nosso amor era tão intenso. Era tanta intensidade, que eu ignorava o facto dele me castigar tanto quanto tivesse vontade.
Me atrai pelo seu doce perfume, me perdi no seu olhar que penetrava em mim, os seus lábios macios e rosados junto aos meus, a cena escorria como o quiabo da minha mãe.
Os seus braços fortes como a Grande Muralha envolvia o meu frágil corpo e isso gerava em mim, a certeza de que, mesmo a bomba de Nagasaki e Hiroshima juntos, o nosso amor nunca explodiria.
Decidimos no ano seguinte, tornar público a nossa paixão secreta. Mas ele exigia muito de mim.
Eu lhe dou atenção, ele desatenção,
Eu lhe dou carinho, ele me despreza,
Lhe tornei prioridade na minha vida mas ele me trata como eu fosse a única interessada nessa relação.
Bem que já dizia a minha amiga
" ama com a mente e não com o coração". Eu só viria a me lembrar desta filosofia de vida da minha amiga, quando já tinha meses de gestação.
Nessa altura, prometi a mim mesma, me desprender dessa dependência emocional e sentimental com ele, isso quando desse a luz ao meu filho, fosse ele de tom claro ou escuro, eu lhe aceitaria de qualquer jeito.
Meu Deus! as contrações começaram naquela noite frio de domingo, senti a segunda maior dor do mundo segundo a O.M.S.
Já ele, nem estava lá para segurar a minha mão quando comecei a sentir a dor do parto, eu preferiria que ele fingisse se importar com o que estava a acontecer, ele é o lobo que me enganou nas vestes de cordeiro.
Lá pela manhã de segunda-feira ensolarado, eu continuava a dar aqueles berros ensurdecedor entre aquelas quadro paredes, com aqueles enfermeiros que se limitaram-se apenas em ver espremer o bebê sozinha.
Eu continuava a fazer força, mesmo que o coração acelera a mil km por hora, mesmo que as lágrimas desfilam- se no meu rosto, mesmo os ossos todos se quebrava, mesmo que a dor ofegante não me permitia respirar, eu continuei a espremer, sozinha espremi, espremi até que bem perto das 15 h, pari os meus 20.
Agora, com ele não tenho mais relação amorosa. Ele é simplesmente pai dos meus 20 valores.