por Sweet Zompira, em 2023-10-11
Canção do Assassino
Eu sou uma alma. Oh! Desculpe-me. Estou sendo mal-educada. Olá! Como você está? Pois bem, agora posso continuar. Como eu disse no princípio, eu sou uma alma. Sim. Isso mesmo que você leu. Uma alma. Isso significa que eu já estive em um corpo e claro, não estou mais. Porquê? Porque eu sou uma alma. Mas não se assuste, ok? Eu apenas quero contar para você como eu cheguei aqui, ou seja, como deixei o meu corpo. Vou levar você para o dia da minha morte como pessoa. Espero que goste! Ups! Que coisa doida de se dizer, não é? Quem gosta da morte? Algumas pessoas, claro. Mas com certeza a minoria. Bom, vou começar, então preste atenção e vamos ao dia 25 de Junho de 2018.
Abri os olhos lentamente e o vi. Sorrindo. Sorrindo com alegria por eu estar acordada e sorrindo com tristeza porque sabemos que vou morrer. Esforcei-me e também sorri, mas não pelos mesmos motivos que ele e sim porque estou contente de o ver. Ele aproximou-se e beijou-me com carinho na testa. O câncer no cérebro está-me matando. Alguns diriam maldito câncer, mas ele é o que é. Está cumprindo sua função, não é? Isso acontece. Mas ainda assim eu o odeio, sabem? Porque me levando embora desse mundo, que não é perfeito, mas é meu mundo.
— O que você… vai fazer? Vai fazer o que eu pedi... ou não? Porque eu não… posso fazer sozinha… nem outra pessoa pode fazer… a não ser você — falei com a voz arrastada.
Ele fechou os olhos. É difícil o que estou pedindo, eu sei. Ele se transformará noutra pessoa depois disso. Mas como ele me ama tenho a certeza que irá fazer.
— Eu vou fazer — disse com tristeza.
Ah! Meu querido. Está sendo difícil para ele ver-me assim. Eu sorri.
— Hoje.
— Hoje? — Ele abriu os olhos surpreendido.
Eu assenti com a cabeça.
— Por favor, querido — pedi.
Ele fechou os olhos e suspirou. Quando os abriu me beijou e sorriu.
Eu inspirei o ar fresco da floresta com alegria. Como eu amo a natureza! Ela é tão saudável. Ele me trouxe até aqui. Estou muito agradecida. Me sentei no chão coberto de folhas verdes. As grandes árvores nos encaravam. Abri a minha pasta e tirei uma arma, calibre 52 dourada e preta. Ele fechou os olhos quando a viu. E eu estendi a mão para ele pegar.
— Tem mesmo que ser assim? — Perguntou com esperança de que eu mude de ideia.
— Tem, meu querido. Eu amo você, sabe?
— Eu também amo-te muito.
As lágrimas caindo dos seus lindos olhos verdes. Ele abraçou-me e nos beijamos longamente até que não aguentei mais.
— Se eu não tivesse câncer, aguentaria por mais tempo — disse brincando e rimos. — É hora — disse o olhando.
Ele respirou fundo, beijou-me mais uma vez, levantou-se, pegou a arma e apontou para a minha cabeça, tremendo. Eu fechei os olhos.
— Eu amo você — disse ele chorando.
Eu sei. Ele sabe que está prestes a matar-me por misericórdia e amor. Então eu comecei a contar. Cinco, quatro, três, dois, um… BANG! Eu morri.
E aqui vou eu, deixando meu corpo, vendo ele chorando horrores. Ele segurou-me nos seus braços e carregou-me chorando e chorando. Seu coração partido em pedaços por ter assassinado a mulher da sua vida. Mas ele sabe que me livrou das coisas horríveis que estavam por vir. Ele salvou-me e eu o agradeço por isso. Me dói ter o deixado mas não podia deixar o câncer acabar comigo. Não, não. Eu sempre disse que não permitiria que doença alguma me matasse e eu cumpri.
Cinco, quatro, três, dois, um. A arma se foi e eu também, e aqui vou eu…