por Edgar Luluca, em 2025-09-13

A Angola Que Vai Reconfigurar o Mundo Precisa de Criadores

A Angola Que Vai Reconfigurar o Mundo Precisa de Criadores.

Como a criatividade está a salvar o país onde a política não consegue, e o que tu podes fazer com isso

 

Quando Marcolino Moco escreveu "Angola, a Terceira Alternativa", deixou uma ideia que continua a ecoar entre os becos e avenidas da nossa realidade:

 

"A salvação de Angola não virá apenas dos políticos. Virá da reconstrução cultural e moral da sociedade."

 

Essa visão define essencialmente o nosso desafio: não esperar transformações com base em promessas vazias, mas construir futuro pela arquitectura, pela arte, pela escrita, pela dança, pela música, pela ciência e criação do que ainda não foi imaginado.

 

Num país onde se diz "o país tem dono" que os jovens "não leem", "não sonham" ou "não se acreditam", o que acontece todos os dias em bairros, províncias e páginas de caderno desmente tudo isso: há uma criatividade viva e com fome de se mostrar.

 

Criatividade em Angola nasce da sobrevivência.

 

Numa das casas de Luanda na Samba, a minha mãe transforma um bidom amarelo velho em um lavatório. Em Benguela, um estudante filma curtas-metragens com o telefone do primo. No Huambo, uma estilista recorta tecidos usados e constrói desfiles ao ar livre no bairro.

 

Isto não é “dar um jeito”. É engenharia, arte em estado bruto, acima de tudo é a política da possibilidade.

 

Tal como o livro de Marcolino Moco denuncia a falência das estruturas formais, também revela uma esperança: os criadores, os pensadores, os agentes de cultura.

 

É aqui onde eu quero chegar: A juventude angolana está a criar uma nova Angola, todos os dias. Mas será que o país está a prestar atenção?

 

África como epicentro criativo

 

Para os Pan-Africanos que talvez combatem a evolução, a própria vida em si mostra que os tempos mudam e a África que vem aí não será e não pode ser a de ontem.

 

O rapper angolano 12 Furos, em conversa no Podcast Kano Kortado, reforçou o que muitos como eu já pressentem:

 

"O mundo vai passar a olhar para África como referência, não só por música, mas por originalidade."

 

O peso dessas palavras ecoa em Angola, Moçambique, África do Sul, Nigéria, Senegal, Costa do Marfim e além. Diversos países africanos são ecos de uma futura ou nova onda: criatividade africana feita para inspirar, emancipar, redefinir tendências e redirecionar culturas.

 

Em Angola, essa intuição também ganha contornos na arte, música, literatura, dança e no design como expressões, mecanismos de sobrevivência emocional e instrumentos de revolução histórica. 

 

Num país onde as estruturas falharam em tantos domínios, os criadores emergem como líderes invisíveis ou, como escreveu Marcolino Moco, "salvadores culturais onde a política já não chega."

 

Não é de hoje que a criatividade africana é tratada como se fosse um "toque exótico".

 

Vejamos:

 

Selly Raby Kane, estilista senegalesa, e em Angola temos, António Paciência, artista de spoken word, Leonardo Thomás, fotógrafo, Aline Frazão, cantora, Pai Profeta, cantor do marginalizado estilo kuduro, Alusapo, escritora, Séketxe, grupo de rap que desenvolveram o próprio estilo rapcia, Deezy, rapper, Alexandrino Manuel, Designer e o Prodígio, rapper que canta sobre Angola como ela realmente é. Eu, Edgar Luluca, escrevo como quem quer unir a nação ajudando as pessoas com as experiências e palavras que coloco nos meus livros e artigos. 

 

Burna Boy, cantor da Nigéria, que exporta sonoridades locais com mensagens de resistência global. Mas poucos traduzem esta filosofia como o grupo moçambicano AOPDH (A Outra Parte da História).

 

O grupo produz música em línguas locais, aborda realidades comunitárias e desafia narrativas oficiais. A produção das músicas é independente, digital, e distribuída de forma inteligente por plataformas que democratizam o alcance da arte.

 

Este modelo de acção colectiva e autoexpressão estratégica é precisamente o que falta fomentar em Angola: laboratórios de criatividade que funcionem como centros de pensamento e inovação social a nível nacional e não só em Angola-Luanda. 

 

Então o que nos falta?

 

Não nos falta talento. Falta-nos espaço e espaços.

Não nos falta sonho. Falta-nos estruturas organizacionais.

Não nos falta vontade. Falta-nos o verdadeiro reconhecimento político de que criar é construir país.

 

A criatividade, quando organizada, forma economia. A famosa economia criativa que estuda o comportamento humano e prima na experiência da pessoa ao usufruir de um serviço, produto ou cultura. E a cultura, quando financiada, gera desenvolvimento sustentável. Porque no geral a arte, quando cuidada, torna-se a linguagem diplomática de um povo.

 

A criatividade angolana precisa de se posicionar

 

Nós, os criadores de Angola, precisamos:

  1. Criar um networking marketing — unir designers, músicos, dançarinos, escritores, cineastas.
  2. Ter noção básica de inglês ou francês — há mais oportunidades quando se fala a mesma língua e além disso o Google oferece mais resultados de pesquisa quando escreves em inglês.
  3. Co-produzir conteúdos — investir na internacionalização africana, tal como artistas de Moçambique, Nigéria, Africa do Sul e Gana.
  4. Aproveitar plataformas globais — YouTube, Medium, Spotify, Podcasts, etc. 

A nossa criatividade é feita de iniciativa própria, de alguém que tem pressa, de alguém que faz porque tem de ser feito, e quando nos organizamos, o resultado é uma explosão cultural exemplar.

 

A minha proposta

 

Está na hora de o país ver os criadores como vê os generais. Mas pra isso seria necessário reescrever políticas públicas de cultura, onde o foco não seja apenas o espetáculo, mas também o pensamento crítico, a estética popular e a memória social.

 

Se fizermos isso, não estaremos apenas a criar: estaremos a plantar Angola no mundo que queremos viver.

 

E tu? Alcança o teu pleno potencial 

 

O que estás a fazer para que a tua criatividade não morra no papel? Estás à espera de “condições” ou já estás a criar, mesmo com fome, mesmo com medo? Vais continuar à espera de recursos perfeitos? Ou vais transformar a tua realidade com o que já tens mesmo que os resultados ainda sejam invisíveis aos olhos dos outros?

 

Se todos nós transformarmos a criatividade em ação, o amanhã de Angola e de África já terá deixado de ser incógnita. Será manifesto.

 

Porque como disse o Mestre Sagrado: “A Angola que tu esperas… está à espera de ti.”

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